VENUS

VENUS

Zara Larsson descobriu muita coisa sobre si mesma nos três anos que antecederam seu quarto álbum. O resultado dessa jornada está em VENUS (2024), um tratado sobre o amor em todas as suas formas e que une composições clássicas com experimentações insólitas. “Foi um projeto muito divertido de fazer para o meu crescimento pessoal”, diz Larsson ao Apple Music. “Sinto muito mais segura de mim e do que faço. Não estou estressada, estou mais presente e grata por poder fazer música. Criar este álbum foi uma experiência incrível.” No entanto, experiências incríveis não são sempre garantidas, como a própria Larsson pode atestar. O sucesso sem precedentes de So Good (2017) – o hit avassalador que apresentou Larsson (já famosa na Suécia, sua terra natal) ao mundo - teve um impacto negativo sobre a forma como ela trabalhou na sua sequência, Poster Girl, de 2021. “As pessoas me amarraram a uma espécie de padrão”, diz. “Me senti muito pressionada a corresponder àquela expectativa tão alta. E me preocupava demais com o que as pessoas estavam esperando de mim. Desta vez não senti essa pressão. Eu me concentrei conscientemente na criação das músicas e não tanto em como elas seriam recebidas. Isso mudou totalmente a maneira como me senti fazendo este projeto.” O processo criativo de Larsson também mudou. A “linha vermelha” que costurou o projeto foi uma feliz união entre os produtores Rick Nowels (Lana Del Rey, Adele, Lykke Li), Danja (Britney Spears, Missy Elliott, Madonna) e a própria Larsson, além de um time afiado de colaboradores, incluindo Casey Smith e MNEK. Trabalhar tão perto de Nowels, particularmente, garantiu à cantora o espaço que ela nem sabia que precisava para entender e desenvolver sua arte. “Eu não me via como uma compositora. Eu era só uma artista que às vezes escrevia alguma coisa”, revela. “Mas o Rick não queria ninguém no estúdio dele. Uma pessoa, duas, no máximo. E ele esperava que eu trouxesse títulos, ideias e inventasse acordes que me agradassem. Então tive que compor, já que não tinha mais ninguém no estúdio. Foi ali que me dei conta de que tenho boas ideias e também tenho um ouvido ótimo. Confiei na minha opinião sobre o que é legal ou não.” Larsson se sente imensamente orgulhosa do capítulo da sua vida que VENUS destaca com inúmeros pontos de exclamação. “Para mim, este álbum representa uma era, representa o núcleo da energia e do empoderamento feminino do qual quero fazer parte”, ela explica. “Falo muito sobre amor e acho que é esse sentimento que faz o mundo girar.” A seguir, Larsson nos conduz por um passeio pelos temas e inspirações por trás do álbum, faixa a faixa. Can’t Tame Her “Acho que o MNEK é uma das pessoas com quem mais gosto de trabalhar. A gente tem uma química incrível no estúdio. Aprendi a me aproximar de gente com quem me sinto bem. É divertido e uma ótima maneira de começar alguma coisa. Esta faixa foi lançada há cerca de um ano e tem uma sonoridade bem diferente de tudo o que já fiz antes. Tem uma pegada mais ou menos assim: ela faz o que quer, ela não está nem aí, ela é essa garota – o que é uma boa representação de como eu me senti fazendo este álbum. E amei cantar esta música ao vivo. Tem essa coisa que é muito importante para mim, sabe? Tipo: ‘Como seria tocar esta música ao vivo no show? Como todas essas faixas se sairiam em uma turnê?’. Esta, especificamente, me traz muita energia.” More Than This Was “Consigo me identificar totalmente nesta música. Talvez não agora, mas já passei por uma situação em que senti que talvez eu tenha deixado aquela pessoa escapar... Então me dei conta de que não, não era a pessoa certa. Estou bem! Uma coisa muito legal sobre a música é que às vezes você só quer se identificar com ela, é por isso que a gente coloca uma música triste quando estamos mal. Acho que dá para fazer uma música incrível só tendo empatia por uma determinada situação. Você não precisa estar vivendo aquilo. Se fosse assim, se eu fosse escrever sobre como estou me sentindo [feliz] agora, este seria o álbum mais piegas do mundo.” On My Love [com David Guetta] “Meu empresário colocou o refrão e a abertura desta música um dia em que a gente estava dirigindo por Los Angeles. Acho que ela me afetou porque era muito dançante e comovente, o vocal da demo era incrível. Achei aquilo fantástico. Então era uma música que já existia e eu só a finalizei. Sei que quando a escreveram, estavam falando com o universo e com Deus, era esse amor imenso. Na minha vida, este amor é a minha irmã. Ela é o grande amor da minha vida, minha amiga mais antiga. Somos muito próximas e sempre fomos assim, desde pequenas. Já escrevi várias músicas sobre ela. O amor não tem que ser só romântico. Pode ser direcionado para os meus amigos, minha família ou até para mim e minha carreira. Todos esses amores são tão importantes quanto o amor romântico.” Ammunition “Curiosamente, esta música era para ser uma balada. A gente estava no estúdio, ouvindo algumas coisas que o Rick tinha no computador dele e este refrão, originalmente da [rapper americana] Starrah, se destacou. A letra é incrível: ‘I want to give us a shot/ Please give me, give me, give me ammunition’ [em tradução livre: ‘Quero dar uma chance para nós/ Por favor, me dá, me dá, me dá munição’. [Nota: a letra original faz um trocadilho com ‘shot’, que, em inglês, pode significar ‘tiro’ ou uma gíria para ‘tentativa’ ou ‘chance’.] Então o Danja disse: ‘Deixa eu testar algumas coisas aqui…’ Dá para ouvi-lo muito bem na faixa – a bateria, aquela vibe e até o ‘give me, give me, give me’ meio estridente. A produção é a protagonista desta música – ela tem uma pegada nostálgica e, ao mesmo tempo, inovadora. Não vejo a hora de pensar em uma coreografia para ela, pensar nos solos de cada instrumento, essas coisas. ‘Ammunition’ é uma das minhas músicas preferidas.” None of These Guys “Fizemos esta música com o [duo de produção e composição sueco] MTHR, que também trabalhou em ‘Can’t Tame Her’ e em ‘You Love Who You Love’. É tão bom quando a gente sabe que fez músicas ótimas e ainda temos alguns dias sobrando, então a gente pode se divertir um pouco, sem ter que ficar pensando em como produzir um mega-hit. Para esta faixa, a gente entrou em um clima tipo: ‘Vou para uma balada bem sexy e underground falar o quanto eu amo meu homem.’ Eu queria um recorte que não fosse só aquela coisa ‘você é meu amor, você é a minha pessoa favorita’ e acho que é legal quando você consegue ver um pouco de personalidade na música. Não sou uma pessoa muito séria, então é ótimo poder fazer uma música em que posso ser mais atrevida e divertida, porque é uma parte muito grande de quem sou.” You Love Who You Love “Já vivi tantas vezes essa situação de dar uma chacoalhada em uma amiga, tipo: ‘Acorda. O que você está fazendo? Você merece muito mais do que isso’. Eu também já tive um relacionamento onde a gente ia e voltava, ia e voltava, ia e voltava. Um dia, em uma dessas voltas, ele estava em casa, sentado no sofá, quando minha irmã chegou. Ela começou a chorar. Ela me disse: ‘Eu odeio esse cara’. É muito fácil se identificar com isso. É uma música desesperadora, emotiva, camuflada pela batida nostálgica, pela guitarra e por uma evolução que culmina em um refrão super pop.” End of Time “A Casey Smith e o Rick Nowels fizeram este álbum comigo e sou muito grata a eles por continuarem no estúdio compondo músicas para mim, mesmo quando eu não estava presente. Esta é uma das músicas que saiu dessas sessões e, na minha opinião, é uma faixa belíssima. É enorme, existencial. Na criação do universo visual e do vídeo para esta música, quis focar no meu amor-próprio, no amor pelo que faço e em acreditar em mim mesma. Este é um amor que vai me acompanhar pelo resto da minha vida.” Nothing “Esta faixa me deixa muito feliz porque ela me leva lá para o começo da minha carreira, quando fechei a com a [gravadora sueca independente] TEN aos 15 anos. Ela foi escrita pelo Mack [Marcus Sepehrmanesh], um dos compositores de ‘Uncover’ [single de estreia de Larsson, lançado em 2013], e pelo Erik Hassle, que eu adoro demais, e produzida pelo Grizzly, que, para mim, também é um ‘OG’ [Original Gangsta] da TEN Records. Trabalhamos nos meus EPs, antes do meu primeiro álbum. E esta música é muito boa. Ela fala sobre esse sentimento com o qual muita gente se identifica, aquela coisa tipo: ‘Estamos chegando ao fim? Sinto que isso está escorrendo entre os meus dedos. A gente poderia resolver se conseguíssemos conversar, mas suas habilidades de comunicação são muito pobres.’ É um sentimento inquietante.” Escape “Esta música é tipo uma vibe. É muito sonhadora. Eu acho que o meu paraíso particular seria uma cama muito aconchegante. Minha vida é na horizontal quando não estou trabalhando. É assim que existo: no aconchego, de conchinha com o meu namorado. Este é o escape perfeito para mim. Eu não preciso ir para lugar nenhum.” Soundtrack “Tenho várias músicas que são como diferentes perfumes para diferentes fases da minha vida. Quando sinto um determinado cheiro, penso: ‘Uau, este cheiro me leva total para tal momento.’ Com a música é o mesmo. Dá para encapsular uma história inteira ou uma relação em uma única faixa, e ela vira uma trilha sonora da vida que você tinha ou da memória que criou. Sou marcada em vários vídeos e os comentários são tipo: ‘Esta foi a música da minha formatura’ ou ‘eu casei ao som desta música’. Quando eu olhar para trás, daqui a um ou dois anos, ‘Close to You’, da Absolutely, vai ser a trilha sonora da primavera para mim, ela é a irmã mais nova da [cantora e compositora britânica] RAYE e é muito talentosa. É louco pensar que você pode fazer parte da vida das pessoas dessa maneira. É uma das coisas mais bonitas em ser uma artista.” Venus “Ela é uma garota muito, muito sonhadora. Esta faixa foi escrita pela [cantora e compositora galesa] Violet Skies e pelo Rick quando eu não estava em Los Angeles. Eles me mandaram e achei as melodias lindas. É quase uma carta de amor para o próprio amor, sobre sentir o amor ou conhecer uma pessoa e perceber que o amor poderia ser diferente, poderia mudar sua perspectiva sobre o que você acha que é ser amada por alguém. Achei esta música maravilhosa.” The Healing “Um adeus muito delicado, mas muito importante. Esta música é muito corajosa, no sentido de que não é nada que eu normalmente faria em termos de produção ou até do meu canto. Às vezes, em uma música pop, a voz pode ser camuflada pela produção, mas, nesta aqui, eu não tive escolha que não fosse fazer um vocal muito próximo e intimista. Até o jeito que canto é bastante reservado. Na vida real, acredito que, em grande parte, começar a amar a si mesma pode vir de ser amada por alguém que te admira de verdade. Você não precisa estar completamente curada, mas sim saber o que quer e do que precisa, e não se jogar na primeira coisa que aparecer. Mas a mensagem principal é: seja você mesma, vá em frente na sua jornada de cura para poder voltar na sua versão mais completa e amar com ainda mais potência – talvez mergulhar um pouco nessa energia de Vênus. É uma boa conclusão reflexiva para o álbum.”

Outras versões

Selecionar um país ou região

África, Oriente Médio e Índia

Ásia‑Pacífico

Europa

América Latina e Caribe

Estados Unidos e Canadá