O novo álbum 2004 do rapper Scriptonite foi uma surpresa até para ele. Após o lançamento de Ouroboros, o artista anunciou que havia decidido deixar o rap para trás, admitindo que não tinha mais nada a dizer no gênero. Ele se concentrou no Gruppa Skryptonite, um novo projeto para experimentos com ritmos latinos, sons de dança e instrumentos acústicos, além de produzir músicas para artistas de sua gravadora Musica36. Sobre 2004, o rapper disse ao Apple Music: "comecei a trabalhar neste álbum há pouco mais de um ano. Eu não tinha intenção de fazer um álbum de rap, mas novas faixas foram se desenvolvendo, de alguma forma, sem esforço." “Existem 24 faixas no álbum, mas apenas 16 delas são músicas propriamente ditas. O resto são pontes ou saudações musicais dos meus amigos. É o primeiro álbum que compus inteiramente por minha conta musicalmente falando, embora a maior parte do que você ouve nos meus trabalhos anteriores também era meu. Não há ideia ou narrativa abrangente aqui, nenhuma música que seria a chave para explicar tudo, mas parece sólido e é muito especial para mim. Provavelmente porque eu usei sintetizadores analógicos e baterias eletrônicas para fazer tudo, o som resultante é tão quente, tão 2000s. É o meu primeiro álbum que eu consigo ouvir em segundo plano sem pensar necessariamente que é meu." Scriptonite, que explodiu na cena rap russa em 2013, não nasceu na Rússia, mas num município dos subúrbios de Pavlodar, uma cidade industrial no Cazaquistão. O hip-hop americano apareceu na vida dele através das fitas que ele ouvia no player do seu pai (um rádio de carro que foi reaproveitado) — já que sua família não podia comprar um aparelho de som comum. Adil Zhalelov (o nome de nascimento do artista) começou a fazer música aos 15 anos e logo virou um dos muitos compositores anônimos (ghostwriters) que vendiam suas batidas na internet por alguns dólares. Mas, ele guardou as melhores batidas para ele. Ainda buscando seu próprio estilo, o jovem continuou a escrever letras e fazer música, apenas compartilhando suas faixas com as pessoas mais próximas. Seu grande momento chegou com o hit “VBVVCTND”. “Você queria uma armadilha de verdade, isso é uma armadilha!” — na faixa, ele faz um rap sobre a pobreza e os perigos nas ruas de Pavlodar, com baixo pulsante e sinos sonantes tocando. Após uma disputa entre departamentos artísticos da indústria fonográfica, a estrela em ascensão foi contratada pela Gazgolder, a gravadora de rap mais conceituada de Moscou. O álbum de estreia de Scriptonite foi aguardado pelos fãs e pela indústria da música russa por quase dois anos. A espera valeu a pena — Dom s normalniymy yavleniyamy [House with Normal Phenomena] conquistou a todos em 2015. Aqueles que esperavam que o artista continuasse a criar um trap ousado se surpreenderam. No lançamento, Adil narrou vários anos de sua vida em Pavlodar em uma história de crime e romance –– boa o suficiente para se transformar em um filme –– fazendo uma trilha sonora original de hip-hop nebuloso, blues suave e raw soul. O Dom s normalniymy yavleniyamy impressionou tanto os críticos quanto os fãs de rap e se tornou o álbum número 1 daquele ano no iTunes na Rússia. Scriptonite continua a surpreender a cada novo álbum. Na primavera de 2017, ele lançou Prazdnik na ulitse 36 [Holiday on Street 36], um álbum cheio de hits dançantes e provocantes, e apenas seis meses depois o álbum em duas partes Ouroboros. O novo trabalho retrata sua juventude simultaneamente desamparada e esperançosa, passada nas ruas, e contrasta com a solidão provocada por seu sucesso. Entre os álbuns, o rapper fez colaborações com o artista britânico de trip-hop Tricky e os super-heróis do EDM e dancehall Major Lazer. Mas, uma coisa permanece inalterada: o artista e produtor está sempre em busca de novos sons para sua música.