BRIME! (Deluxe)

BRIME! (Deluxe)

O trio Fleezus, CESRV e Febem apresenta BRIME Deluxe (2023), álbum que atualiza e amplia o bem-sucedido EP BRIME!, lançado em 2020. “Para a capa, escolhemos uma foto do Ronaldinho [Gaúcho], que mostra o gol de falta que ele fez nas quartas de final da Copa do Mundo de 2002, na qual o Brasil eliminou a Inglaterra e ganhou o título”, explica Febem ao Apple Music. Com duas músicas gravadas em Londres, “CHELSEA” e “SOHO”, BRIME Deluxe traça um paralelo entre as culturas periféricas do Brasil e da Inglaterra ao misturar gêneros como o grime – vertente do hip-hop que absorve elementos de drum 'n' bass e EDM – com sonoridades como o rap e o funk carioca. “A gente sempre teve influência da música da Inglaterra, mas costumamos brincar que o grime é o como se fosse o funk inglês. E o BRIME Deluxe veio de uma necessidade de atualizar o EP e incluir outras influências. A gente também quis trazer mais representatividade à música brasileira”, ressalta CESRV. Fleezus, CESRV e Febem tratam de suas vivências na periferia paulistana ao abordar o racismo e a rotina de opressão social que os três conhecem bem. “CESRV é da zona sul, Febem é da zona oeste e eu sou da zona norte de São Paulo. Cada um de nós traz a sua realidade do que é morar na quebrada. A gente quer furar bolhas, ultrapassar barreiras e mostrar a nossa realidade para o mundo”, revela Fleezus. A seguir, o trio comenta as faixas de BRIME Deluxe: RADDIM Febem: “É aquela velha história: você sai do gueto, mas o gueto não sai de você. A gente está feliz, a gente está trabalhando, mas nem tudo são flores.” CESRV: “É um contraste do momento de festa com o a realidade. Você está no baile se divertindo, mas as responsabilidades da vida também estão acontecendo. É sobre viver a nossa cultura de baile. E é sobre sexta-feira.” FALA MEMO (feat. Coruja Bc1) Febem: “Colocamos dois tipos de gírias que são parecidas: ‘Fala memo’ e ‘Wah gwan’, que é uma gíria muito usada na periferia de Londres, principalmente por imigrantes africanos. É uma abreviação de ‘What’s going on?’ [em português, ‘o que está rolando?’ ou ‘e aí?’]. E tem junto esse suco de Brasil, da realidade da quebrada.” CESRV: “É uma das músicas mais voltadas para o rap do álbum. Tem as rimas mais extensas. Com a participação do Coruja Bc1, ela ficou com mais cara de São Paulo. Fala sobre a vida na periferia. O instrumental foi composto antes da explosão do drill no mundo, mas acho que ela já tinha essa influência mesmo antes de chegar com força ao mercado fonográfico.” TERCEIRO MUNDO CESRV: “Usamos as influências da música eletrônica brasileira e trouxemos para o contexto da Inglaterra. Foi a primeira vez que a gente pegou um beat de UK garage, colocou ao lado de um tambor de funk e percebeu a similaridade disso. Acho que esse artifício nunca tinha sido utilizado na música brasileira. A letra é muito forte e politizada e, ao mesmo tempo, de fácil entendimento.” Febem: “Talvez sejam as rimas mais curtas do álbum. Ela passa rápido, mas deixa seu recado. ‘Manda avisar que aqui nóis tira água de pedra/ Terceiro mundo, fábrica de Marighella’. A mensagem é bem direta.” CHELSEA CESRV: “A gente escreveu na Inglaterra, mas o beat eu tinha feito aqui no Brasil. Gravamos no estúdio de uma marca que nos patrocinou em Londres. Fleezus já tinha composto o refrão antes. Há um paralelo entre as indústrias do futebol e da música.” Febem: “E reforça a nossa autoestima, pois a gente realmente tira leite de pedra. Traz referências criativas de garra, raça e força. Nós três somos corintianos e isso também nos une e inspira.” SOHO (feat. Luccas Carlos) CESRV: “Também foi composta em Londres. Faz alusão a um cara da periferia de lá, da região de Croydon, que sai com uma menina do Soho. Mostra uma história de superação, de um dia você ser o último da fila e depois ser notado por pessoas que te ignoraram a vida inteira. Transformamos isso em uma história de amor.” Febem: “É uma música romântica, mas também um deboche. Tem a ver com você acordar ao lado de uma gatinha em um bairro chique, mas depois voltar para sua realidade.” CESRV: “Tem uma frase do Luccas Carlos de que eu gosto muito: ‘Eu tô de passagem, baby/ Nem imagina como foi pra chegar/ E eu sei que nada é pra sempre’.” Fleezus: “Me passa um sentimento de leveza. Foi composta de forma espontânea.” YIN YANG Fleezus: “É o nosso retrato da sociedade e da realidade brasileira. É como se fosse um hino do Brasil com a nossa ótica. Quando eu estou cantando esta música, eu elevo a minha autoestima. É como se eu estivesse cantando para o mundo. O sentimento que eu tenho é de furar bolhas e ultrapassar barreiras. É para a galera da quebrada se sentir representada.” CESRV: “Ela começou com um refrão que o Fleezus escreveu e que ele disse que soava meio Natiruts. E a gente acabou transformando em uma música que não tem nada a ver com isso. Incorporamos o funk carioca que lembra Rennan da Penha, mas com uma linguagem de rap.” Febem: “E representa a força do gueto e da classe operária. É de onde nós três viemos.” GOLPE CESRV: “Foi feita no período da pandemia da Covid-19. Estava tudo fechado no centro de São Paulo, mas a quebrada estava pegando fogo, então a gente se voltou para esse cenário. Tem um beat de drill com influências do funk de São Paulo, do megatron e do paredão. Fala sobre os golpes digitais, que é algo que acontece muito na periferia. Tem influência dos Racionais [MC’s]. O começo é um áudio de um amigo nosso que é comediante e simula uma rádio pirata da quebrada.” Febem: “Também traz o contexto do período sombrio que a gente viveu durante o governo do Bolsonaro.” Fleezus: “Tem a ver com os golpes da vida. A gente vai longe, os playboys frequentam os nossos shows, mas, quando a gente volta para as nossas raízes, encontra o mesmo cenário de opressão policial, violência e preconceito.” HOJE VAI DAR MERDA CESRV: “Misturamos influências brasileiras com fundamentos do drill. São referências de funk carioca dos anos 2000 com um frescor atual. É uma música de festa.” Febem: “Há um sensacionalismo da mídia em relação às baladas da quebrada. Por que as raves, por exemplo, não são notícia? Os helicópteros filmam as festas da periferia como se fôssemos um zoológico.” SOBE O MORRO Fleezus: “A ideia era representar as quebradas de todo o Brasil. Fala sobre sair da sua zona de conforto, por isso diz ‘sobe o morro’. Tem muita gente com curiosidade pelo que rola por lá, mas acaba não indo por preconceito.” CESRV: “Musicalmente é parecida com ‘GOLPE’. Aborda o quanto é comum falar da cultura da favela na música popular brasileira, mas de um jeito meio lúdico, né? Pouca gente realmente ‘sobe o morro’ para ver como é a realidade.” NEM ME LIGA (feat. Smile) Febem: “Retrata como a ascensão traz ilusão. É sobre a mentalidade das pessoas que, depois que você tem visibilidade, começam a ir atrás de você, imaginando algo que você não é.” CESRV: “E é sobre autoestima também. É poder fazer suas coisas e crescer, sem dar atenção a quem só te procura por interesse. Tem a participação do Smile, que é um cantor incrível.” Fleezus: “É bem isso. Eu era o ‘patinho feio’ da quebrada. Hoje, que sou o Fleezus, muitas pessoas que antes me davam as costas me tratam de outra maneira. Mas agora estou vivendo o meu sonho com meus amigos, então ‘nem me liga’.” BRIMEVISION! (feat. Sodomita, SD9, VND, Well, Mirral ONE, Ravi Lobo & Pivete Nobre) CESRV: “Tem um formato de cypher [reunião de rappers]. A gente quis mostrar um pouco da cena do grime do Brasil. Traz a representatividade desse gênero que está espalhado pelo país inteiro. Foi uma maneira de incluir regiões fora do eixo Rio-São Paulo, que têm dificuldade para entrar na indústria da música, como Salvador e Belo Horizonte, que são expoentes do rap. A gente gostaria de ter chamado ainda mais convidados.”

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